Paladinos do Abolicionismo

A um daqueles condenados, e executado em Bragança há mais de vinte anos, acompanhei durante todo o tempo que esteve de oratório, e esse tal não mereceu tão rigorosa pena, segundo coligi (O sr. Sant’Anna e Vasconcelos: — Boa lei!) da conversa e trato que com ele tive no oratório.

Mas não concluam daqui que ele fosse um inocentinho.
Este homem, um dos últimos enforcados que houve este país, chamava-se Jorge, e no meio da sua grande desventura conservou-se até à ultima, e morreu com muita coragem. Lembra-me até que eu disse nessa ocasião, diante de muita gente — se alguma vez for enforcado, Deus me  a coragem que tinha este homem.

Agora não peço já isso a Deus, não é preciso depois da votação de hoje.
Sr. presidente, há uma cousa que realmente me surpreende e espanta, e leva a descrer da seriedade dos intuitos do nosso seculo.

No momento em que o engenho humano faz os maiores esforços para aperfeiçoar tantos instrumentos da morte; no momento em que se multiplicam por toda a parte os duelos de morte entre os indivíduos; no momento em que se ampliam os campos de batalha, que não são outra cousa senão patíbulos onde se mata por atacado, patíbulos que os senhores consideram legais, e qualificam de campos de honra; no momento em que tudo isto se faz e se pensa; e quando de mais a mais a cada esquina, e até dentro das cadeias se atenta contra a inviolabilidade da vida humana, é que se propõe, discute e vota a abolição da pena de morte! E acontece isto em Portugal, que não prima em civilização, nem pode julgar-se à frente da civilização universal, nem mesmo da maior parte das nações da Europa que se não têm, como é sabido, atrevido a abolir a pena de morte!

Como é, sr. presidente, que Portugal se abalança a tanto, e se lança nesta carreira? Como é que de um tema apropriado aos exercícios escolares, e ao apuramento dos grandes talentos se faz um artigo do código penal?