Proponho que se elimine do orçamento o ofício e o salário do executor. (…)
Odiais o assassinato até ao ponto de matar o assassino; pois eu odeio o homicídio até obstar que vos torne homicida.
Imaginar uma sentença de morte é uma impiedade, ditar uma sentença de morte é uma blasfémia, executar uma sentença de morte é um sacrilégio; porque a pena de morte é um insulto à civilização, é uma injúria à humanidade, é uma ofensa, um escárnio, uma traição a Deus!
Vozes: – Muito bem! (…)
Diz o orçamento:
O cura vence anualmente a quantia de 48$000 réis.
O executor vence anualmente a quantia de 49$000 réis.
Os olhos lêem isto e não acreditam! A razão refoge aterrada e o coração comprime-se de mágoa! Será possível?… É esta a ideia que nós fazemos da morte e do carrasco? O que é isto? Meu Deus?… (…)
O saião melhor compensado do que o sacerdote. (…)
Nós há dezassete anos que não temos uma execução. E isto não somente prova a doçura dos nossos costumes, mas que já podemos abolir de direito o que há tanto está abolido de facto… (…)
Não quero nas leis nem uma palavra que possa amanhã fazer cadáveres. As leis devem conter simplesmente palavras úteis, devem ter prescrições que se realizem, e não servirem de espantalho, que não é esse o seu fim racional (Apoiados). (…)
Ora, pergunto eu, quem é o carrasco? O carrasco é o homem que enforca? É o homem que guilhotina? É o jurado que declara o réu, o malfeitor? É o juiz que lavra a sentença? Não, senhores. O carrasco, digamo-lo com franqueza, somos nós. Não é a corda que enforca, não é página em que está lançada a sentença, não é a folha de papel em que está escrita a lei. O carrasco é o nosso coração e a nossa cabeça: cabeça e coração de todos nós que estamos aqui. (…)
Sim, somos o carrasco, mas um carrasco cobarde, porque não querendo que o sangue do malditoso nos manche as mãos, entrepomos entre nós e aquele um homem, que ali está involuntariamente, constrangido e coagido, para matar em nosso nome e em nome da sociedade.