De facto a pena de morte está abolida e não se tem aplicado há muitos anos. Que razão, que receios, que temor há de que este estado continue? Enquanto não podermos moralizar mais o país; enquanto as prisões se não fazem e se não estabelece todo o necessário, há de ficar abolida desde já a pena de morte? Deseja-se então que os assassinos se multipliquem de forma que nem a autoridade se julgue segura pelo que já aconteceu que o filho não respeite a vida do pai; o pai não respeita a vida do filho, a mulher não respeita a vida do marido, nem este a daquela. Só no meu concelho nestas audiências vieram ao banco dos réis cinco assassinos: um que tinha morto o filho, outro que tinha morto a mulher e outro que por ciúmes, depois de derrubar um homem a bastonadas publicamente, calcou-lhe a cabeça com os tamancos esmagando-lha. E quer-se neste estado abolir totalmente a pena de morte?
As nossas leis tendem e muito a favorecer os criminosos. O artigo da lei que determina que a autoridade administrativa dentro de vinte e quatro horas remeta o preso ao judiciário, é uma proteção ao crime que concorre para a impunidade. E impossível que a autoridade administrativa dentro de vinte e quatro horas, em tão curto espaço penda o homem e faça o auto de investigação com as provas necessárias, a fim de que o juiz possa proceder e o réu ser castigado.
Eu já me vi colocado nestas circunstâncias, e me vi obrigado muitas vezes a demora-los quinze dias e mais, não cumprindo a lei, porque, se fosse cumprida, o réu estava no meio da rua campeando a impunidade.
Este desejo de destruir sem preparar, sem dispor primeiro o que é indispensável para o que há de vir; quem acredita que podemos marchar na vanguarda de todas essas grandes nações na distância a que nos achamos? Elas ainda não aboliram a pena de morte.
Inglaterra, dando-se ali circunstâncias que não encontro em nação alguma, com que respeito se acata a lei e a religião, como se executa sem distinção de pessoa tanto contra o grande como contra o pequeno! Que moralidade ali se não observa; os magistrados com que escrúpulo se não conduzem no cumprimento da lei! Inglaterra ainda não aboliu a pena de morte em todos os crimes.